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O jogo que não acabou

Finalmente, o time dos sonhos.

Foto: Reprodução

Depois de ter contratado Nego Jordan diretamente do estrangeiro e ter entrado em negociação pelo passe de Orlando Touro e Tonho Mucura, Marcelino, o treinador do esquadrão, que contava em suas fileiras com jogadores do porte de Vevé, Dirran e Pedro Preto, só pensava em como montaria sua equipe para que todos chamavam de “o jogo do ano”. Orlando Touro era famoso pela sua força e raça (comparavam-no a Moisés, antigo e famoso beque do Vasco da Gama do Rio). Tonho Mucura era um modesto vendedor durante a semana, mas tinha um bom futebol, e umas manchas no rosto que lhe davam o aspecto de um saruê ou mucura (animal abundante naquela região). Daí o apelido.

Voltando ao time e sua armação, Marcelino não tinha mais sossego, pois se aproximava o dia do grande jogo contra o time da rua “F” daquele núcleo habitacional, que os repórteres insistiam em chamar de comunidade, contrariando os moradores célebres, como Dona Eliene, torcedora fervorosa e efervescente, pois seu filho Nego Jordan, uma das estrelas da equipe.

E o treinador sofria, pois na cabeça dele o time era Raimundo Quiabo, Pedro Preto, Lila, Todo-Duro e Léo Bolinha. Meio campo composto por Saulo Ceroula, Vevé e Nego Jordan e o ataque era fatal com Dirran, Nêrroda e Zé Rosca. Este time não tinha adversário à altura naquela comunidade, digo, núcleo habitacional.

O problema estava no banco de reservas, pois enquanto não chegavam os reforços, nosso treinador tinha, que se contentar com Zezinho Vesgo (o apelido já dizia de sua dificuldade, principalmente na hora do chute);  Arizico (um jogador que se achava o próprio galinho de quintino, mas era somente ele); Tonho Bochecha (também conhecido como Papada ou Fofão) e Gigante, conhecido mais pelo seu excesso lateral de adiposidade, do que da agilidade no gol. Este era o banco e a dor de cabeça do “professor” na hora em que, por alguma razão, um dos titulares se machucava. Como prêmio para os destaques, o treinador distribuía um lanche regado a “bolachão” (uma espécie de bolacha gigante) e refresco de mangaba o que, segundo ele: traria “sustança” para o embate.

E chega o dia do jogo, marcado para as 11 horas, no campo oficial do conjunto, aliás, núcleo habitacional, regado a muito sol e calor, cheio de torcedores frenéticos a gritar os nomes dos craques da partida.

Como sempre, jogo pegado, Nego Jordan e Saulo Ceroula destruindo tudo no meio campo e Nêrroda infernizando a vida do adversário.  Do outro lado, o goleiro Borracha pegava tudo, até os chutes de Zé Rosca e ainda tinha o auxílio dos irmãos Terçado e Estrovenga na zaga (imagina por quê). Foi num desses lances absolutamente fortuitos, que levantaram Nerroda, que cai se contorcendo. Marcelino olha para o banco e chama Zezinho Vesgo, para substituir seu centroavante.

E Vesgo entra com vontade no jogo, igual doido no milho assado.

E logo surge sua oportunidade de se consagrar e ele, pá!!! Um chute de direita, que fez a bola subir, subir, parecendo o saque “Jornada nas estrelas” e a bola vai caindo, caindo e de repente começa um alvoroço em campo, com todos correndo, da torcida aos atletas. O fato: a bola subiu e ao descer atingiu uma casa de abelhas, que ficava perto do campo, numa árvore. As abelhas escolheram logo o treinador, e danaram a correr atrás dele, que ficou inchado e teve que ser socorrido pelos moradores.

O juiz, também bastante castigado pelas abelhas, deu o jogo por encerrado, sem decretar vencedor ou perdedor.

Passada tal experiência, esse foi o último jogo de Marcelino, que nunca mais quis saber de treinar nenhum time. Dizem por aí, que ele comprou uma chácara, e é apicultor nas horas vagas.

Jonas Santana é funcionário Público, escritor, professor, gestor e apaixonado por futebol. Escreve crônicas e artigos.

E-mail:  jonassan40gmail.com

 

     

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