Foto: Divulgação / fefecuador
Há pouco mais de sete meses no comando da Seleção Feminina do Equador, a paulista Emily Alves da Cunha Lima, 39 anos, aguarda o retorno das atividades, devido a pandemia da Covid-19 para dar sequência ao seu projeto de desenvolvimento na seleção nacional, mas também no futebol equatoriano como um todo. Emily Lima, atuou de volante, iniciou no Saad, mas passou por São Paulo, Palestra São Bernardo, Veranópolis, Barra de Teresópolis e ainda no futebol espanhol e italiano. Emily, iniciou sua carreira fora de campo como supervisora e assistente técnica da Portuguesa de Desportos e já como treinadora no Juventus, Seleção Brasileira sub-15, sub-17 e na principal, além dos Santos e atualmente na Seleção do Equador.
De Quito, Emily Lima, contou ao SPORTS MANAUS, um pouco de sua história, sua visão sobre o futebol brasileiro, sua passagem pela Seleção Canarinho e sobre seu projeto de desenvolvimento no futebol equatoriano.
SPORT MANAUS – A oportunidade de ser a treinadora da seleção do Equador, mostra que seu trabalho apesar do pouco tempo na Seleção Brasileira principal, nas categorias de base e nos clubes mostram seu potencial profissional?
EMILY LIMA – Eu agradeço a CBF pela vitrine, pois estive em uma das melhores vitrines do futebol feminino internacional. Querendo ou não, o Brasil não tem um desenvolvimento cem por cento do futebol feminino, mas sempre teve bons resultados desde a primeira Copa do Mundo, em 1991. É uma vitrine que me ajudou muito, mas cabe muito a Emily correr atrás, agora aqui (Equador) mostrar realmente a escolha da Seleção Equatoriana de escolher a Emily e ter a escolha certa comigo. Acho que sim, os clubes que passei, os trabalhos foram feitos, os resultados sempre ajudam, porque, o futebol principalmente sempre no Brasil, só é visto por resultados e também ajuda. Acredito que seja um pouco de tudo, que fez com que outras seleções pudessem ter o interesse no meu trabalho.
SPORT MANAUS – Você considera como maior desafio comandar uma seleção estrangeira, mas principalmente classificar para a Copa do Mundo Feminina de 2023?
EMILY LIMA – O trabalho aqui é a longo prazo, claro que é um desafio muito grande. Primeiro, porque a gente chega não só para trabalhar com a Seleção do Equador, mas para desenvolver um projeto de futebol feminino no país, mas claro para a classificação da Copa do Mundo de 2023. Acredito que o desenvolvimento vai ajudar muito a gente a desenvolver um melhor trabalho na seleção, ou seja, quanto melhor a Liga, quanto melhor as Ligas de base, quanto mais competitiva, melhor as atletas vão chegar na seleção. Nós também temos jogadoras em outras ligas, isso também nos ajuda a fazer com que elas estejam jogando em alto nível. Com certeza, acho que é um dos melhores desafios que, eu já aceitei na minha carreira de treinadora.
SPORT MANAUS – Essa chance de comandar a seleção do Equador pode abrir mercado para você em outros continentes e até mesmo para outros treinadores brasileiros no futebol mundial?
EMILY LIMA – Estar numa seleção, é estar em uma vitrine internacional. Com certeza, pode abrir sim o mercado para outros continentes. Estou muito feliz aqui, e satisfeita com que estou vendo, com que eu vi, com que estou vivendo e com que vivo. E se isso puder ser uma ponte de mercado exterior para os treinadores brasileiros, seria muito legal e muito importante. Nós temos muitos treinadores e treinadoras a nível internacional que, muitas vezes não são valorizados no Brasil e que podem trabalhar em clubes e seleções fora do Brasil. Espero que possa contribuir com isso, claro, se puder contribuir, com certeza, eu vou contribuir.
SPORT MANAUS – Com esse período longo parado, devido a pandemia da Covid-19 atrapalhou muito seu trabalho na Seleção do Equador ou até mesmo serviu para avaliar e aperfeiçoar mais ainda?
EMILY LIMA – Acho que atrapalhou, o período de quatro meses e alguns dias atrapalha, mas temos que ver o lado humano. Acho que foi muito necessário, nós tivemos muitas mortes aqui no Equador. O começo da pandemia foi terrível, e a prioridade era diminuir o número de casos e mortes, essa era a prioridade. Mas claro que nosso trabalho ficou parado durante esses quatro meses. A gente tinha recém chegado e tínhamos três meses e pouco de trabalho. O que posso avaliar disso são os estudos. Nós tivemos tempo de estudar muito, eu fiz um montão de cursos. Fiz os estudos também com a própria comissão técnica, com as comissões técnicas das Super Ligas, tanto das Séries A e B. A gente foi se movimentando da maneira que dava para aproveitar esse tempo em casa.
SPORT MANAUS – Emily, você tem pelo menos 10 anos na profissão. Como você analisa esse tempo na área, entre aprendizado e conquistas?
EMILY LIMA – Acredito que são 10 anos que estou engatinhando ainda, tem muita coisa pela frente e muito o que aprender. As conquistas são consequências do trabalho e me preocupa muito mais o aprendizado e o conteúdo do que as conquistas, porque tudo isso faz parte das conquistas. Eu priorizo o aprendizado sempre. A minha análise é positiva, por mais que temos dificuldades para o mercado de trabalho, a minha prioridade é o aprendizado, por conta disso também. A gente, além de ser mulher nós temos que ter um currículo diferente, e mesmo tendo, muitas vezes a gente não é escolhida. Tudo faz com que me fortaleça e continue batalhando e lutando para estar sempre em um lugar melhor.
SPORT MANAUS – Você foi treinadora do São José e do Santos, duas equipes fortes na categoria. O Campeonato Brasileiro Feminino das Séries A1 e A2 tem um bom nível técnico e tático ou com tempo isso vai amadurecer mais ainda?
EMILY LIMA – Acredito que o Campeonato Brasileiro vem melhorando a cada ano, mas acredito que poderia ser melhor. Eu ainda insisto que, se tiver menos times na Série A1 e na Série A2, a gente acaba fazendo um campeonato muito mais atrativo e mais competitivo. Não é acabar com os outros times, temos as Séries A1 e A2, mas começaria a criar outras divisões com outros níveis de equipes. Sempre as equipes que sobem para a Série A1, muitas vezes acabam descendo, as vezes sim ou não, mas acontece. Acredito que um formato com menos times seria muito mais atrativo, venderia muito mais, porque seria competitivo. Acompanhei um pouco o começo desse ano do campeonato. Por exemplo, mas quando se tem resultados com placar de 7 a 0, isso não cabe mais no futebol feminino. Não vejo muito atrativo, mas mudaria um pouco o formato, porém, vejo que o nível técnico e tático vem melhorando sim.
SPORT MANAUS – Na sua opinião, o Campeonato Brasileiro Feminino sub-16 e sub-18 são competições que podem contribuir para o desenvolvimento do futebol na revelação de jogadoras, seja para os clubes e para a seleção nacional?
EMILY LIMA – Acho que tudo que é feito tem de ser valorizado, só que não adianta fazer por fazer. Eu acredito que o campeonato sub-16 e sub-18 pode ser melhor elaborado e ter uma competição um pouco mais longa. Eu sendo presidente de um clube, não vou ter um time sub-16 e sub-18 o ano inteiro para jogar 15 dias como aconteceu no Brasileiro. Isso tem que ser pensado e não fazer por fazer. Preciso pensar no clube e um pouco da cabeça do clube como vai manter uma equipe sub-16 e sub-18. Eu acho que a competição contribui, mas não é eficaz para clube e seleção. Acaba sendo uma vitrine, aí sim vai lá, busca e lapida a jogadora, mas poderia ser melhor elaborado. Cito o exemplo da Federação Paulista de Futebol (FPF), a entidade para mim, é um exemplo hoje de como se trabalha o futebol feminino.
SPORT MANAUS – Você foi a primeira mulher a comandar a equipe principal da Seleção Brasileira Feminina, mas ficou pouco tempo. Na época declarou que não teve respaldo técnico do coordenador técnico feminino da CBF. Você ficou magoada e faltou mesmo um apoio maior da entidade em relação ao seu trabalho?
EMILY LIMA – O tema da Seleção Brasileira é algo que virei a página muitos anos, e o tempo é o professor de tudo. Sempre acreditei que o tempo é o professor, e hoje eu vivo uma outra realidade dentro de uma outra seleção. Não vou nem falar em respaldo técnico, porque a gente não tinha um coordenador técnico, mas um coordenador administrativo. Quando digo respaldo não é me defender, não quero que as pessoas me defendam. Eu quero que as pessoas entendam o projeto e defendam o projeto, porque a Emily, está de passagem nos lugares. A seleção sempre vai ser a seleção e os treinadores vão estar de passagem e as jogadoras vão estar de passagem. O respaldo que tenho hoje aqui na Federação Equatoriana é essa, ou seja, apresentei um projeto e eles entenderam o projeto. Eles não vão ficar preocupados somente no resultado a curto prazo, porque o projeto é a longo prazo.
SPORT MANAUS – Atualmente a Seleção Brasileira é comandada pela sueca Pia Sundhage. Na sua opinião, o selecionado poderia ter treinadores brasileiros, seja homem ou mulher que atuam no futebol brasileiro feminino?
EMILY LIMA – Acho que Pia é um bom nome, mas é claro que, tínhamos sim nomes no Brasil para assumir a Seleção Brasileira. Porém, depois de tudo que a CBF sofreu da minha saída, o tumulto que deu, a volta do Vadão e as coisas não deram certo. Foram sei lá quantos jogos sem vencer e aí aguentar uma pressão, porque eu tive acho 56% de aproveitamento. Não tive oito, nove ou 10 jogos sem ganhar, mas a pressão foi muito forte para a CBF. Quando você trabalha corretamente, as coisas acontecem corretamente quando não se trabalha corretamente. As coisas acabam se virando contra e acabou se virando, onde a CBF estava numa pressão muito grande. A sacada foi a Pia, acho muito boa, mas temos de aproveitar o máximo a Pia, não somente para Seleção Brasileira, mas para o desenvolvimento do futebol feminino no Brasil. Eu estou vendo muito trabalho com a seleção, mas não estou vendo trabalho no desenvolvimento no país. Posso estar enganada, mas a CBF poderia aproveita-la muito mais, porque a experiência, as vitorias e a vivencia que ela tem é muito grande.
SPORT MANAUS – Você considera que na América do Sul, o futebol brasileiro feminino está muito acima das outras seleções nacionais ou com o desenvolvimento da categoria outras seleções ou equipes estão evoluindo também na parte técnica e tática?
EMILY LIMA – Acredito que o Brasil na América do Sul sim, tenho certeza é a melhor seleção, mas não quer dizer que o país que desenvolve como deveria o futebol feminino. Um dos nossos objetivos aqui no Equador é desenvolver o futebol feminino e diminuir essa distância em relação ao Brasil. Cada ano que passa, a gente diminui essa distância em relação ao Brasil. Quando chegar perto do Brasil, aí temos que ter uma ambição maior que é visar um âmbito um pouco internacional mesmo, é pensar em grandes nomes de seleções de futebol feminino no mundo. Mas o Brasil é disparado como melhor, mas não acredito que seja o melhor país a desenvolver o futebol feminino na América do Sul.