Da redação do Sports Manaus, com informações – Escrito por Lance! – Publicada em 06/01/2024 – 00:39 • Rio de Janeiro (RJ) – Atualizada em 06/01/2024 – 02:32
‘Velho Lobo’ conquistou quatro copas do mundo, duas como jogador e duas como parte da equipe técnica
Foto: Acervo Lance!
Um dos maiores vencedores do futebol brasileiro, Mario Jorge Lobo Zagallo morreu nesta sexta-feira (5), aos 92 anos. Tetracampeão do mundo (como jogador em 1958 e 1962, como técnico em 1970 e como auxiliar técnico em 1994), Zagallo faleceu por falência múltipla de órgãos, às 23h41 (horário de Brasília), no Hospital Barra D’Or, na zona oeste do Rio de Janeiro, onde estava internado desde o dia 26 de dezembro.
Um dos patrimônios do esporte nacional, o Velho Lobo teve sua trajetória profissional marcada por várias conquistas e muitas histórias, especialmente ligadas à sua “superstição” com o número 13.
‘O FORMIGUINHA’ E BICAMPEÃO DO MUNDO
Nascido em Maceió (AL), Zagallo iniciou sua carreira como ponta-esquerda em 1948, no América, do Rio de Janeiro. Em seguida, o “Formiguinha” transferiu-se para o Flamengo, onde marcou época pela primeira vez como jogador, ao fazer parte da conquista do primeiro tricampeonato carioca do clube, em 1953, 1954 e 1955, e ficou até 1958. Logo depois, mudou de ares, mas seguiu nos gramados do Rio de Janeiro
Com a camisa do Botafogo, fez parte de um novo esquadrão que marcou época, jogando ao lado de nomes como Nilton Santos, Didi e Garrincha. O trio seria seu companheiro em um sonho ainda maior: convocado para a Copa de 1958, na Suécia, Zagallo iniciou seu longo período de conquistas com a Seleção Brasileira da geração de Pelé e Vavá.
Campeão carioca de 1961 e 1962 e do Rio-São Paulo de 1962 com o Botafogo, Zagallo voltou a ser convocado para uma Copa do Mundo. Quatro anos mais velho, o ponta-esquerda conquistou mais um título, no Chile. Encerrou a carreira em campo três anos depois, mas seguiu ligado ao futebol.
CAMPEÃO DA COPA COMO TÉCNICO E AUXILIAR
Um ano após pendurar as chuteiras, Zagallo foi chamado para comandar o Alvinegro, onde venceu dois Cariocas e a Taça Brasil de 1968. Porém, voltaria a encontrar a Seleção Brasileira: depois da demissão polêmica do treinador João Saldanha. Na Copa do Mundo de 1970, com uma formação em 4-3-3, o Velho Lobo fez o Brasil de Pelé, Tostão, Gerson, Rivellino, Jarzinho e Carlos Alberto Torres levar o tricampeonato no México.
O título o manteve no cargo de treinador da Seleção. Porém, a busca pelo tetracampeonato demorou um longo tempo. Em 1974, na antiga Alemanha Ocidental, o Brasil, que mesclava Jairzinho e Carlos Alberto Torres a nomes como Leão, Zé Maria e Dirceu, foi desbancado nas semifinais pela Holanda. A Laranja Mecânica, capitaneada por Johan Cruyff, bateu os então campeões mundiais por 2 a 0. Na decisão do terceiro lugar, a equipe verde-amarela foi derrotada pela Polônia por 1 a 0, com gol de Lato.
Apesar do fim de sua primeira passagem no comando da Seleção, Zagallo seguiu sua carreira como técnico, e com êxito. Seu currículo traz as conquistas dos Cariocas em 1971 com o Fluminense e em 1972 com o Flamengo, além de um título saudita com o Al-Hilal. O “Velho Lobo” ainda treinou as seleções do Kuwait e Emirados Árabes, Botafogo (por duas vezes), Vasco (por duas vezes) e Bangu.
Porém, seu destino cruzou novamente com a Seleção Brasileira. Em 1994, foi auxiliar técnico de Carlos Alberto Parreira e, durante a conquista do tetra nos Estados Unidos, ficou marcado por suas contagens regressivas para o título que trouxe nomes como Romário, Bebeto, Dunga e Taffarel, além de voltar a ficar em evidência sua folclórica superstição com as 13 letras.
FRUSTRAÇÕES PELA SELEÇÃO EM 1998 E 2006
Mesmo após a saída de Parreira, seguiu no Brasil, mas novamente no cargo de treinador. Porém, seu retorno ao cargo foi marcado por decepções: além do vice-campeonato da Copa América de 1995, a eliminação da Seleção Olímpica nas semifinais dos Jogos de 1996, com uma derrota de virada por 4 a 3 para a Nigéria, na prorrogação. No ano seguinte, veio a redenção, com o Brasil conquistando a Copa América de 1997 seguida de um desabafo: “vocês vão ter que me engolir” e, no mesmo ano, faturou a Copa das Confederações.
Só que o sonho do penta de Zagallo foi frustrado e pautado por polêmicas. Tendo o também ex-jogador Zico alçado a coordenador técnico, Romário teve seu corte confirmado de maneira polêmica às vésperas do Mundial na França, em 1998. Após o Brasil conseguir chegar à decisão, no entanto, outro episódio rendeu controvérsias: o atacante Ronaldo passou mal, chegou a ser especulado seu veto para a partida decisiva, mas o camisa 9 foi para campo enfrentar os donos da casa e viu os franceses ficarem com o título após o placar de 3 a 0.
Ao fim da Copa, Zagallo deixou a Seleção Brasileira, mas continuou trabalhando como técnico. Em 1999, comandou a Portuguesa e, no ano seguinte, assumiu o cargo de treinador do Flamengo. De volta à Gávea, ainda foi responsável por comandar a equipe formada por nomes como Julio Cesar, Edílson e Petkovic que venceu em 2001 o Campeonato Carioca (completando um tricampeonato estadual do clube sobre o Vasco) e a Copa dos Campeões em seu último clube que comandou.
Anos depois, voltou a trabalhar com a Seleção Brasileira. A partir de 2003, foi coordenador técnico na nova passagem de Carlos Alberto Parreira no comando da equipe, e conquistou a Copa América de 2004. Porém, sua nova tentativa em ganhar o quinto título pelo Brasil não deu certo: o “quadrado mágico” de Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo foi eliminado pela França nas quartas de final do Mundial de 2006, na Alemanha. Saiu ao fim do torneio, e encerrou seu ciclo na Seleção, no qual deixou como frustração apenas o fato de não ter levado o ouro olímpico.
HOMENAGENS
A Copa de 2006 foi seu último trabalho no futebol. No ano seguinte, foi submetido a uma cirurgia para desobstrução de uma porção do duodeno na qual perdeu quase 13 quilos. Com o tempo, voltou a marcar presença em solenidades ligadas à Seleção Brasileira.
Em 2016, chegou a passar por um momento comovente: recebeu a tocha olímpica das mãos de Carlos Alberto Parreira. Na época, Zagallo estava em uma cadeira de rodas, pois se recuperava de um problema do estômago e se alimentava com uma sonda em casa com auxílio de uma equipe médica. Nos anos seguintes, voltou a receber homenagens da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em solenidades e deixou seu depoimento sobre os 50 anos do tricampeonato mundial da Seleção Brasileira.
Em 2021, quando completou 90 anos, recebeu outra reverência: foi tema de um documentário da Fifa. Mesmo com dificuldades de locomoção, continuava a receber visitas de pessoas ligadas ao futebol, como Carlos Alberto Parreira e da comissão técnica da Seleção Brasileira na Copa de 2022, com o técnico Tite, o auxiliar César Sampaio e o coordenador Juninho Paulista.
No fim de 2022, voltou a se manifestar publicamente nas redes sociais. Ao saber da morte de Pelé, Zagallo não escondeu seu pesar:
“Meu maior parceiro se foi e é com esse sorriso que guardarei você comigo. Amigo de tantas histórias, vitórias e títulos e que deixa um legado eterno e inesquecível. A pessoa que parou o mundo diversas vezes. A pessoa que fez da camisa 10 a mais respeitada. Um brasileiro que defendeu nosso País em todo o mundo. Hoje o mundo, chorando, para e se despede do maior de todos. Do Rei do Futebol. Obrigado por tudo, Pelé .Você é eterno. Eu te amo”.
Nos últimos anos, Zagallo sofreu com uma série de problemas de saúde. No último dia 9, o tetracampeão do mundo tinha completado 92 anos e recebeu homenagens tanto da CBF quanto de clubes, entidades e pessoas ligadas ao futebol.